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O Eu que nem sei que Sou

Sou e não sei. Algo que tento desvendar e medir. Nunca sei. Penso que sou e não sou. Mudo e recrio. Sempre assim. Pinto-me e me ponho em moldura, mas que racha e desponta imperfeições. Sou o nada? Sou o tudo? Sou eu. Sou o que? Sou isto e aquilo. Sou o mundo e suas maravilhas, sou o Homem e suas malícias. Sou isso e nada mais. Sou o que eu nem sei que sou, mas sou.

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Minha ferida

Afogo-me em teu corpo, distorço suas verdades. Como um câncer, corroo-lhe a vida, uma infecção que lhe apodecre a carne. Enlouqueço-o e o deixo mutilar-se, meu veneno que se espalha. Sou o cárcere de sua alma. A morte que te chama, a vida que o abandona. O choro que bradas, o riso que o mata. Sou sua artéria que se desprende, o sangue que não estanca e que jorra, penetrando diretamente em minha veia, que o pulsa descompassado.

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Inevitável

Morremos a cada segundo, nos perdemos constantemente pela estrada por onde passamos; ficamos nos olhos de quem nos vê, nas palavras que pronunciamos ou que dissemos e espairamos; nas pegadas que deixamos neste solo instável no qual pisamos, no suspiro que deixamos escapar por estes ventos que o sopram; nos sentimentos que proferimos e que se espalham; na comida que deixamos de comer, na bebiba que esquecemos de beber; definhamos em cada entrega. É invevitável, caminhamos sem cessar para a morte, que, ao contrário da vida, não nos limita, mas eterniza.

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Ouça

Ouça. Este som que de mim parte é apenas o silêncio do meu coração. Este cheiro que em meu corpo se agarra não passa deste imaculado desejo profano que te chama no cair da noite e no vazio de minha alma. Venha... Beba-me em delírio. Arrasta-me para seus braços, entregue-me seu corpo, toma-me em repleto prazer; faça-me de gozo, dê-me suas asas e seu amor.

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Eu? O amor que me entorpece

† Eu? A lágrima que nunca secou. A ferida que não cicatrizou. O mar que um dia evaporou. O sorriso, que por detrás de uma máscara, esperou. Esperou e nunca brotou. Sou a espada que em teu peito cravou. O sangue que por teu corpo passou. A vida jamais vivida. A morte que virou vida. Sou a cova que jamais será preenchida. Sou o defunto que não tem descanso. O choro do seu pranto. A palavra que te sufoca. Sou o que nunca fui. Fui o que jamais serei. Eu. O silêncio que te acusa. †

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Quanto ao... Amor!

sexta-feira, 17 de junho de 2011| 2

Quanto ao céu, distante
Quanto às mãos, geladas
Estas desentranhadas
Os olhos, cegos
E embaçados
Quanto às marcas, passadas
Em meu peito a saudade
Sinto, devaneio desalmado
Quebraste o enlace
Meu coração desamado

*

Calei aos teus olhos encarar
O conhecer desconheci
Não
(Mudei) nas palavras entregar




Brenda Marques

Hei, está pronto?

quinta-feira, 17 de março de 2011| 7


Titubeantes seus passos se arrastam
Fincando-se em solo e a pernoitar
Esperando que a voz lhe permita caminhar
Enquanto sussurras preces feitas que em parede lisa se chocam
E ao chão vão despencar


Amarrados por correntes aos calcanhares corroer
Conduzidos prontamente por deslizantes pistas disformes
Para encontrar suas respostas é preciso morrer


Já vais?
Por onde estás?
Preencheis as mãos vazias
Adornais suas fantasias


Hei Senhor, por onde andas?
Hei Senhor, você está pronto?
Hei! Jogo-lhe estes prantos e Você se esgueira
"Fode...
Você senta e rola"


Srtª Bêêh

Sepultura

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011| 4


*Um pouco mais junto ao meu peito
Mais e mais para meus braços que o envolvem...
Capturando-o entre carícias vou mastigando-o
Digerindo-o em sussurros que o excitam
Corroendo-o em mil beijos ácidos
Sepultando-o entre cruzes e sarcasmo*



Srtª Bêêh
sábado, 15 de janeiro de 2011| 14


Aleatoriamente, retiro os punhais que sob céus enevoados cravaram-me,
desnudando feridas dispersas por sorrisos que transbordaram.
Para você, em cinza, oferto-me.
Desbotada pelo Sol inexistente que o negro das nuvens apagou.
Distraidamente repousando sobre penas que me anestesiaram a torturosa dor da realidade.
Chorando palavras que me jorravam sem pudor.
Besta moldada em formosura,
banhada com chuvas tardias.
Doce ternura que se alonga, olhar fumego que lampeja
Busca-me em desmedido anseio,
bradas suas palavras de motejo,
engula-me nesta profana brincadeira,
drena-me o sangue sem medo.
Beba-me nesta nossa mútua sedução,
deixe-me ser o vinho de sua embriaguez.
Sem demoras.
Degustai-nos minha transparente nudez.


Srtª Bêêh

Anjo que me mata

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Sedutoramente, atraia-me para seus braços
Sorrateiramente arrasta-me para o negro de sua alma
Faça-me de teus lanches preferidos
Coma-me lascivamente entre os becos onde se esconde
Goze-me tuas malícias
Esconda-me em tuas asas
Beije-me em molhadas carícias
Mate-me numa emboscada


Srtª Bêêh

A batalha

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010| 3

-- Saia deste buraco no qual se esconde e propaga o mal às distâncias, criatura monstruosa! - bradou o anjo ante o buraco negro que se estendia em uma cratera ao chão.
Suas enormes asas douradas cintilavam, exalando uma forte luz celestial que iluminava o sórdido ambiente que emitia enxofre e fuligem pelo solo sem vida; lugar este desprovido de calor ou amor, atmosfera insuportável para qualquer mortal, irrespirável e tóxica até mesmo para os seres divinos que ali persistiam.
Ao longe, uma chuva de águas douradas caía sobre a Terra. Anjos que desciam pelas frestas entre as nuvens que não passavam de portais ofuscantes que faziam doer os olhos de quem ousasse flagrá-los.
-- Saia já, Demônio! -- ordenou novamente, desta vez mais agressivo do que o normal, suas feições tomando formas incomuns.
A criatura morrinhava para subir de seus extremos, vociferou ao longe, sua voz dispersa fazia eco e trazia consigo uma onda de um bafo nauseante de enxofre e qualquer outro mau cheiro de algo que esteja em avançado estado de decomposição.
Dois chifres escamosos despontaram na superfície; de repente tudo ficou mais denso e um grande peso foi depositado sobre o anjo que parecia desbotar; seus joelhos fraquejavam, a dor era evidente. Risadas grotescas emergiam ao fundo, como se vindas de uma sala fechada, chegando distorcidas e em partes.
-- Que vergonha, Gabriel. Hahahahá! Titubeando perante mim? Onde está a sua bravura agora? - A gigantesca fera zombava a sua frente, ficando completamente fora da cratera quase que estantâneamente. Uma criatura sessenta vezes maior, fazendo o anjo relusente e de grandes asas cintilantes parecer mera insignificância. Corpulento e oleoso, olhos sangrando em puro ódio, pele ardendo em ferocidade. - Para que veio, verme? rosnou.
-- Os males caem sob destroços - começou anjo Gabriel com dificuldade - já é hora da batalha que definirá as ordens no mundo. Teu reinado de malícias definhará até restar apenas os bons sentimentos. Nada de ganância ou ambição, mentiras ou tristezas. Já chega de guerras ou mortes. Seu fim começará a partir de agora!
Enquanto falava, Gabriel ia se enchendo de bravura, sua força ia aumentando juntamente a sua confiança.
Mais risadas. Roncos fantasmagóricos que se estendiam em deboche.
-- E com o que pretende guerrear? - perguntou descrente.
Gabriel estendeu os braços para o horizonte, revelando uma camada de fileiras onde residiam inúmeros anjos que brilhavam incessantemente. - Com o meu exército divino enviado por Deus.
A criatura olhou com desdém e desatou a rir. -- Você acha mesmo que conseguirá vencer com somente uns míseros 15.200 passarinhos porpurinosos? Seu exército de merda não chega nem à sombra dos meus 500.000 demônios! E o que seria dos homens sem a gente? Eles nos adoram! Adoram chorar e se iludir, adoram mentir, ambicionar - claro, eles devem querer crescer sempre mais -, adoram trair e roubar. Afinal, diga, verme Gabriel, como saberiam o que é a felicidade se jamais sofressem? Como acertariam se jamais errassem? Vamos ver quem levará o título de vencedor!
Nesse instante, um enorme e gritante pássaro negro os sobrevoou, levantando uma nuvem de poeira e lágrimas que foram esquecidas por aquele chão. Duzentos mil cães demoníacos surgiram ao longe, cinquenta mil aves petrificadas escaparam de seus ninhos e duzentos e cinquenta mil anjos negros sacavam suas espadas ainda fedendo a sangue.
Os dois grupos avançaram. Os dois se chocaram, formando uma linha tortuosa que ondulava aos ares, um borrão de manchas negras e brancas que se misturavam.
Os demônios começaram confiantes, rindo e debochando enquanto estraçalhavam e trituravam algumas cabeças e cuspiam umas penas. Vangloriavam-se, crentes de que iriam ganhar. Seus números cresciam, para cada anjo morto mais um ser das trevas. Um anjo que morre pelos dentes de um demônio é um anjo corrompido, condenado a viver nas sombras.
"A batalha está ganha." pensava a besta. Mas não contava com a emboscada de Gabriel, que o pegara de surpresa enquanto ria e escandalizava. Teve o braço decepado, cujo pedaço de carne podre fragmentou e evaporou em um faixo de luz.
-- Ria, troll, ria enquanto o corto com minha espada e o contemplo mover-se para os céus.
Medo se estampou na expressão atônita da criatura; torceu o corpo para ver o estrago feito, decaindo em gritos de fúria que machucariam os ouvidos de alguém normal.
-- Você me paga, inseto!
Uma luta particular foi travada, a fera avançou enraivecida. Corpo a corpo anjo e demônio se enfrentavam. Gabriel tentava golpeá-lo, no entanto a besta mostrava-se veloz. A sua volta seus colegas matavam e eram mortos; a luta estava desigual, os anjos tinham dificuldades, enfraqueciam envoltos a tantos monstros.
Gabriel conseguira uma brecha, um descuido na defesa da besta; atacara, mirando o coração do demônio. Focava-se naquilo, alcançaria seu alvo, fitava-o somente, até que algo desviou sua atenção, uma cena incomum e perturbadora. Seus colegas e demônios caíam ao chão, simplesmente caíam e desbotavam perante a vida que lhes escapava, transformavam o lugar em um campo de destroços, não restara mais nada. Então, o apunhalara, sentira o coração da besta esmigalhar-se; seu grito cortante o invadira, ele morria e levava o anjo consigo, sua luz que esvaía lentamente.
O negro e o branco se ligavam e misturavam-se, esvoaçando rumo à lua que despontava. A partir desse momento não existira mais amor e ódio, mas somente o Amor; um único e universal sentimento, que abriga e gera seus derivados. O ponto de equilíbrio de todo o ser. A partir daí tornou-se TUDO Amor. Nós. Amor.






Srtª Bêêh

Minha ferida

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010| 5



Afogo-me em teu corpo, distorço suas verdades. Como um câncer, corroo-lhe a vida, uma infecção que lhe apodrece a carne. Enlouqueço-o e o deixo mutilar-se, meu veneno que se espalha. Sou o cárcere de sua alma. A morte que te chama, a vida que o abandona; o choro que bradas, o riso que o mata. Sou sua artéria que se desprende, o sangue que não estanca e que jorra, penetrando diretamente em minha veia, que o pulsa descompassado.
Vamos correr, caminhar juntos... Vamos cantar e exalar paixão pelos poros. Vamos nos arrastar por esse mundo podre e infestado com a sujeira dos homens que o destroem, vamos pular e dirigir o veículo que nos leva até a morte, e renascer das cinzas para um novo habitar. Um novo ser que nos espera; vamos renascer, venha comigo, agarre minha mão e a aperte até sentir meus ossos se chocarem; não a solte, me segure e diga que me quer que hei de voltar para ti.


Srtª Bêêh